Depois de três anos de ausência, Jon Jones finalmente está de volta ao octógono do UFC. O retorno mais aguardado de todos os tempos acontece neste sábado (4), quando o americano faz a luta principal do UFC 285 contra Ciryl Gane, valendo o cinturão dos pesados.
Antes da estreia de Jones na nova categoria, o ESPN.com.br falou com brasileiros que enfrentaram o "melhor lutador de todos os tempos", como Lyoto Machida, para saber como é estar de frente para "um monstro".
'Jon Jones é o cara mais difícil que já enfrentei' 49e41
Lyoto Machida é um dos maiores nomes da história do MMA. Não só brasileiro, como mundial. O baiano foi campeão do meio-pesado do UFC em 2009, após derrotar Rashad Evans e defendeu o cinturão com sucesso contra Maurício Shogun. Na revanche, porém, perdeu o posto para o brasileiro. Quando tentou recuperá-lo, em 2011, o campeão já era Jon Jones.
Além de Rashad e Shogun, Lyoto já enfrentou outros nomes históricos do MMA, como Tito Ortiz, Rampage Jackson, Randy Couture, Vitor Belfort, Yoel Romero e Chael Sonnen. Nenhum deles, porém, foi mais difícil que Jon Jones.
"O cara mais difícil que eu lutei foi o Jon Jones. Por todo o contexto. Ele é um cara grande... é um conjunto de coisas. Ele é um cara que é diferente também, no estilo dele ele é diferente. É um cara que domina a luta de chão, domina a luta em pé. Era um cara difícil de desmembrar ele, de achar o jogo dele. Apesar de que, no 1º round, eu tava dominando. Mas eu fiz um treinamento tão intenso que eu entrei em overtraining durante a luta. Quando chegou na metade do 2º round, eu comecei a cansar. Treinei demais, ei do ponto", disse.
Jon Jones dá 'medo' no adversário e o treino tem que ser diferente? 4i4bz
Por ser um dos maiores lutadores da história do UFC, não só em questão de qualidade, mas também literalmente - Jones tem 1,93m -, Bonny é uma das armas mais perigosas que o MMA já viu. O seu tamanho por si só já parece intimidador, mas a qualidade deixa o americano ainda mais temido.
Tanto que, normalmente, os adversários costumam mudar seus treinamentos especificamente para Jon Jones. Mas, como Lyoto sentiu na própria pele, às vezes podem acabar treinando demais e, também, é raríssimo encontrar alguém que possa emular Jon Jones.
"O treinamento foi diferente. Por que foi diferente? Porque o jogo dele é muito diferente. E, hoje, você tem que ser muito específico no que você faz. Então, o Jon Jones é um cara de quase 2 metros, a maior envergadura da história do UFC, um cara com um jogo de defesa, porque o Jon Jones é um cara de defesa. Ele sempre se defende muito bem, ele se movimenta, saindo com defesa. A luta dele com o Cormier, ele se defendendo o tempo inteiro. Se defendendo, mas contra-atacando. Ele é um estilo de defesa. Então, o treinamento foi diferente. Eu contratei um cara grande para treinar comigo, mas não tinha a mesma mobilidade, a mesma agilidade que o Jon Jones tinha. E a versatilidade dele, de mudar rápido", explicou Machida.
"Foi o que ele fez na luta comigo. Quando ele sentiu que não dava ali, ele começou a querer me agarrar. E teve sucesso no que fez. Na parte emocional, eu estava muito tranquilo. Sabia que o meu jogo poderia bater com o jogo dele. Mas, na parte do treinamento técnico, realmente existia um desconforto de encontrar uma pessoa do tamanho dele, com aquele jogo, se saindo do jeito que ele se sai, um jogo de defesa, mas ao mesmo tempo perigoso porque é versátil demais".
E quando ninguém conhecia o maior de todos? 584b6x
Jon Jones subirá no octógono para enfrentar Ciryl Gane sendo um dos lutadores mais condecorados da história do MMA. Considerado por muita gente, inclusive Dana White, o maior lutador de todos os tempos, Bonny já foi um desconhecido como outro qualquer.
Foi ainda em 2008 que o americano fez sua estreia no UFC - e o adversário veio do Brasil. André Gusmão, que era um dos principais pupilos da família Grace, foi o encarregado de enfrentar Jones em sua primeira luta no maior palco de MMA do mundo.
O brasileiro foi derrotado por decisão unânime, mas relembra com carinho do combate.
"É uma história que eu já contei algumas vezes. É muito engraçado. Eu tinha marcado para lutar com uma pessoa. Essa pessoa machucou, me deram outra pessoa e eu aceitei a luta. Perto da luta, faltando um mês, o UFC me liga e fala 'ó, tal pessoa não vai poder lutar e vamos achar alguém de última hora'. Falei que se acharem era para ligar e me avisar. O UFC me liga falando 'ó, achamos um cara aqui, ele chama Jon Jones, tá começando agora também, topa?'. Topei na hora. Foi de última hora e eu nem sabia quem era que eu ia lutar", contou.
"Era um cara que vinha da greco-romana. Então eu treinei durante algumas semanas para strikers, tinha treinado só para isso. Veio um cara da luta greco-romana, mais de wrestling. Eu falei 'ah, cara, vai ser um jogo mais de queda, vamos lá, dá para encarar'. Foi completamente o oposto. O cara veio com chute voador, joelhada voadora, soco rodada. Eu falei 'pô, de onde saiu esse cara?'".
'Já dava para saber que era completamente diferente' 1k1c70
Não precisou de muito para André perceber que Jon Jones se tratava de um lutador especial. Segundo o brasileiro, não só ele, mas "o time inteiro" deixou o Target Center, em Minneapolis, naquela noite sabendo que estavam diante de alguém "completamente diferente".
"Não só eu, como meu time inteiro. O UFC dava vídeos para a gente ver um do outro. Peguei os dele e tinha ele lutando com um cara, colocando para baixo, fazendo aquele jogo normal. Falei 'ah, vai ser aquele wrestling americano'. Não sabia nem sequer o tamanho dele, tanto que quando eu fui encará-lo, no dia da pesagem, falei 'cara, o cara é mais alto que eu'. Foi todo um contexto de coisas. Quando comecei a lutar com ele, falei 'cara, é outra luta. É um negócio completamente diferente'", revelou.
'Bateu nos mais f** que existem' 5e4u3
Nenhum competidor gosta de sair derrotado, independente do nível de seu adversário. Diante de Jon Jones, André sentiu um gosto amargo, mas isso não o impediu de curtir a carreira de um dos maiores de todos os tempos.
"Quando eu terminei de lutar com ele, foi minha primeira derrota. Fiquei meio 'c**, mano, perdi'. Fiquei meio chateado. Depois, quando eu vi que ele espancou todo mundo e finalizou todo mundo depois de mim, até os campeões do UFC perderam pra ele por finalização ou nocaute, eu falei 'ah, agora faz sentido'", disse.
"Eu achei do c** (ver ele construindo a carreira). Você ver um atleta daquele nível botar tudo que ele coloca dentro do octógono, eu acho do c**. Independente da vida dele fora do octógono, da vida pessoal, dentro do octógono ele é um monstro, faz coisas que ninguém faz. Bateu e brigou com os mais f** que têm. A história dele de luta é incontestável. O recorde dele é só monstro que ele lutou e ganhou de todo mundo. É um cara simplesmente assustador, realmente".
Jon Jones vai brilhar nos pesados? 3s5v3n
Duvidar de um dos maiores lutadores de todos os tempos parece sempre ser um erro. Mas a volta de Jon Jones ao octógono está cercada de incertezas. Não só o americano está subindo de categoria, como ele não luta há três anos, tendo ado por períodos conturbados durante esse tempo.
Lyoto não duvida da "capacidade de surpreender" de Bonny, mas vê o MMA como um esporte diferente de quando Jones subiu pela última vez ao octógono e isso pode mudar o destino da luta.
"Olha, é uma incógnita para mim o Jon Jones na categoria de cima. Mesmo por que já tem três anos que ele não luta. O MMA é um esporte como outro qualquer. Ele evolui muito. Se você ver o tênis, evoluiu muito. O futebol também não é diferente. Você vê que a cada ele anos eles vem com um sistema de bloco, um sistema de linhas diferentes. O MMA também tem isso. O jogo que acontece mais na grade, que acontece mais no meio, agora acontece mais no chão. Sempre tem uma tendência no MMA. Três anos fora, sem ritmo, não sei como ele estava treinando, é uma incógnita tudo isso. Não sei como vai ser o desempenho dele. Ele está mais pesado. Nitidamente, olhando a foto parece que são duas pessoas diferentes", analisou o Dragão.
"Acho que o Ciryl Gane está mais no ritmo, está mais em forma, é um peso pesado natural. É difícil falar, mas, ao mesmo tempo, tudo que o Jon mostrou no ado... para todo mundo é uma surpresa. Todo mundo quer ver a primeira luta dele no pesado e, a partir daí, ter opiniões. É difícil. Mudou tudo, mudou tempo, categoria, peso, a velocidade, a idade está chegando. Mas é um cara que foi campeão, então a gente não sabe. Ele pode surpreender. Tudo pode estar contra ele, mas ele pode surpreender", finalizou.
Glover Teixeira e Maurício Shogun, outros dois nomes lendários do MMA e que já foram donos do cinturão do meio-pesado do UFC, além de terem enfrentado Jones, também estarão de olho na volta do ex-rival.
"Eu acho que o Jon Jones ganha, principalmente se ele voltar com toda a habilidade, gás, por causa da força e do wrestling. Ele está naquela ansiedade, mas eu acho que essa luta é incrível, o peso-pesado é demais. É a categoria mais "malvada do planeta". O campeão que todo mundo para pra ver. E vai ser fora do normal ver o Jones voltar nos 120 kg depois de três anos. O Gane é um cara difícil, tem uma boa movimentação, não vai ficar caindo pra dentro. Mas o Jones tem as joelhadas... eu não vou perder. Vai ser um lutão", disse Glover em entrevista ao UFC.
"Estou muito ansioso pra ver essa volta do Jon Jones. A gente se enfrentou há muito tempo atrás e desde então ele só fez luta pelo cinturão. Ele tem um jogo de wrestling muito bom, acho que ele tem a chance de derrubar o Gane e vencer no chão, ali no ground and pound ou até finalizando. E o Gane é um cara rápido, boa movimentação de pernas, ele é um peso-pesado rápido. Acho que todo mundo vai parar pra assistir o Jones se testar nesse novo peso", analisou Shogun.