Reportagem originalmente publicada em 12 de dezembro de 2017
Em 2001, Dwight Yorke era um dos atacantes mais temidos do mundo.
Vivendo o auge da forma, ele era titular do Manchester United que conquistou a tríplice coroa na temporada 1998/99 (Premier League, FA Cup e Champions League), além de ter vencido o Mundial de Clubes de 1999 em cima do Palmeiras de Luiz Felipe Scolari, e seguia como destaque da linha de frente dos "Diabos Vermelhos" nos anos seguintes, ganhando mais títulos.
Na mesma época, porém, ele se envolveu na maior polêmica de sua carreira, e perdeu a chance de disputar a Copa do Mundo de 2002 com a seleção de Trinidad & Tobago. E o responsável por punir o craque de maneira dura foi um brasileiro.
Trata-se do técnico René Simões, que comandou a seleção do arquipélago entre 2001 e 2002 e a levou até a fase final das eliminatórias da Concacaf, mas não conseguiu a classificação para o Mundial da Coreia do Sul e Japão. Muito disso por não poder contar com a principal estrela de sua equipe, barrada por indisciplina.
O caso em questão aconteceu no final de junho de 2001. Antes de um jogo decisivo contra a Jamaica, pelas eliminatórias, Simões chocou o Caribe ao anunciar que Yorke e o também atacante Russell Latapy, o outro destaque do time, estavam cortados do elenco e não jogariam o restante do qualificatório da Copa.
À época, o treinador brasileiro não revelou o motivo de Yorke e Latapy terem sido barrados. Disse apenas que eles tinham que ter se apresentado na segunda-feira de manhã para treinarem com a seleção, mas não apareceram. Com isso, Trinidad & Tobago foi a campo sem o par e perdeu por 2 a 1 para os jamaicanos em casa.
Em entrevista à ESPN, Simões conta o motivo de ter tirado o astro do "SuperUnited" dos jogos decisivos das eliminatórias: o centroavante exagerou na bebedeira, deu blackout e sumiu. Com isso, Simões não teve outra opção a não ser fazer de Yorke um exemplo e tirá-lo da seleção sem pensar duas vezes.
"Eu acabei trabalhando com o Yorke em só um jogo, um amistoso, no qual ele foi muito bem. Só que ele não apareceu para o treino depois, faltou ao jogo e tivemos que cortá-lo da seleção. Uma pena, porque ele estava jogando bem e era a esperança do país para ir para a Copa de 2002", lembrou René.
O comandante, atualmente desempregado e à espera de propostas, conta como ficou sabendo da farra de Yorke e Latapy, que eram muito amigos e tinham uma queda pela vida noturna.
"Chegou até mim que ele tinha ado do ponto na bebida e nem apareceu na concentração. Aí tive que cortá-lo, não teve jeito... Era um jogador fantástico, mas não teve como não fazer isso. Ele aprontou, não apareceu e isso teve que acontecer. Foi um dos motivos que tirou Trinidad daquela Copa", lamentou.
"Não classificamos e aí Trinidad começou o trabalho visando o Mundial de 2006", completou o experiente técnico, que deixou a equipe do arquipélago e em seguida assumiu a seleção de Honduras, na qual ficou até 2004, quando começou seu trabalho à frente da seleção feminina do Brasil para as Olimpíadas de Atenas.
Yorke, por sua vez, ainda teria sua chance de ter sua redenção pela equipe nacional e se desculpar pelo vexame de 2001.
Após pedido de desculpas, ele foi reintegrado à seleção trinitina para o ciclo do Mundial de 2006 e conseguiu ajudar o time a se classificar pela primeira vez para uma Copa, terminando na zona da repescagem da Concacaf e ando por Bahrein para carimbar o aporte para a Alemanha.
Na Copa-2006, ele foi titular absoluto e jogou as três partidas de Trinidad & Tobago na primeira fase, mas acabou eliminado após um empate por 0 a 0 com a Suécia e derrotas para Inglaterra e Paraguai, ambas por 2 a 0. Ele seguiria na seleção até 2009, quando pendurou de vez as chuteiras pela equipe e disse adeus.
O treinador havia assinado um contrato de quatro anos com a seleção caribenha, após ser contratado por Jack Warner, então presidente da Federação local (o ex-cartola atualmente está preso por envolvimento nos escândalos da Fifa).
O dirigente, porém, se envolveu em disputas com o Governo local, e Simões achou melhor sair. No entanto, nunca viu boa parte do dinheiro que lhe foi prometido quando ele assinou o contrato.
"O primeiro-ministro de Trinidad queria que eu ficasse, mas eu tinha sido contratado pelo Warner, que era inimigo dele. Aí pensei: 'Se eu ficar aqui, não vou conseguir ganhar um jogo'. Eu tinha assinado por quatro anos, e ainda tinham mais dois anos e meio para cumprir lá", recordou o técnico.
"Só que conversei com o Warner e acabei encerrando o contrato. Eles ficaram de me pagar um dinheiro que até hoje não pagaram. Pagaram só uma parcela bem pequena, faltou muito para receber. Mas isso ficou pra trás, já ou", garantiu.
Neste ano, Simões foi diagnosticado com coronavírus, mas se recuperou.