Nesta terça-feira (13) de Carnaval, é impossível não lembrar da famosa história do ex-atacante Romário envolvendo o Barcelona, o técnico Johan Cruyff e uma suposta escapada do "Baixinho" para curtir a folia no Brasil.
Contada diversas vezes por vários personagens, inclusive pelo próprio camisa 11 no Resenha ESPN de abril de 2017, a anedota ou a fazer parte do imaginário do futebol nacional, sendo sempre recordada em fevereiro.
Mas será que a famosa viagem realmente aconteceu?
Para elucidar o tema, ouvimos novamente todas as versões da "lenda" e checamos datas e jogos para entender se os relatos são fato ou ficção.
Confira abaixo a apuração:
Quem contou a história pela primeira vez? 2s1y3c
Em 2012, Cruyff concedeu longa entrevista ao jornal francês L'Équipe e recordou diversas histórias vividas com Romário no Barcelona.
Em um dos trechos da conversa, ele afirmou que o Baixinho pediu para ser liberado para viajar ao Rio de Janeiro e curtir o Carnaval. O holandês topou, mas com uma condição...
"Uma vez, ele (Romário) veio me perguntar se poderia faltar dois dias de treinos para voltar ao Brasil. Era época de Carnaval no Rio de Janeiro. Eu respondi: 'Se você fizer dois gols amanhã, te dou dois dias a mais de descanso que o restante da equipe'", contou o lendário ex-meio-campista e treinador, que faleceu em 2016.
Segundo Cruyff, o matador cumpriu o combinado e ainda o surpreendeu com os preparativos da viagem.
"No dia seguinte, ele marcou seu 2º gol com 20 minutos de jogo e imediatamente fez um gesto para mim pedindo para sair. Ele me disse: 'Mister, meu avião sai em menos de uma hora'", sorriu.
O holandês não disse especificamente quando os fatos teriam ocorrido, mas o único Carnaval que Romário ou como jogador dos culés foi o de 1994.
A versão de Romário 5v5y5h
Em sua participação no Resenha ESPN, Romário contou uma história parecida, mas com alguns detalhes diferentes.
Segundo o Baixinho, o causo teria de fato ocorrido em época de Carnaval e com o Barça tendo certa folga na tabela de LALIGA.
O ex-atacante recordou que Cruyff prometeu quatro dias de folga ao elenco, mas o brasileiro queria mais, já que perderia muito tempos nos deslocamentos ao país natal.
"Ele [Cruyff] ia liberar o elenco por quatro dias, só que eu era o único estrangeiro que morava fora da Europa. O Koeman morava na Holanda, o Laudrup na Dinamarca, o Stoichkov na Bulgária. Falei: 'Mister, isso aí não está certo! Os caras vão para as duas casas em três, quatro horas, eu levo um dia e meio só para ir e voltar. Se tem quatro dias de folga, eu vou ficar dois dias e meio no Brasil só. Para mim, isso é a maior derrota'. Ele me olhou e falou: 'Como é que a gente faz, então?', e eu retruquei: 'Eu é que estou te perguntando'", rememorou.
"Então, ele me falou: 'Se você fizer dois gols no jogo de amanhã, leva mais três dias (de folga)'. Falei: 'Tá bom!'. Fui lá e fiz três! Aí perguntei como é que ficava. Ele falou: 'Você vai ganhar mais sete dias (de folga)!", acrescentou.
De acordo com o craque, o elenco blaugrana não aceitou bem, mas Cruyff acabou contornando a situação.
"Ele falou para o time: 'Combinei com o Romário que se ele fizesse dois gols eu daria três dias (a mais de folga), ele fez três, então vou dar mais uns dias. Teve aquele 'bico' de tudo mundo, mas ele segurou a onda", brincou.
A escapada de Romário: verdade ou mito? 455933
Romário foi contratado pelo Barcelona em 17 de julho de 1993 e depois saiu para o Flamengo em 14 de janeiro de 1995. Portanto, seu único Carnaval em Barcelona foi o de 1994.
Em 1994, a folia brasileira foi celebrada entre 12 e 14 de fevereiro. Com isso, parte da história contada por Cruyff é verdadeira: o Baixinho de fato fez dois gols em uma partida contra o Zaragoza, por LALIGA, no dia 12.
Só que não houve nada de dois gols rápidos e avião. O camisa 11 fez seu 2º tento aos 31 da etapa complementar e permaneceu na partida até o final - o Zaragoza venceu por 6 a 3.
Também não houve o suposto período sem jogos do Espanhol, já que o Barça já teve que voltar em campo no dia 18 de fevereiro, contra o Osasuna, e com Romário em campo.
Ou seja: o Baixinho não teve a tal "folga de sete dias" supostamente dada por Cruyff, já que atuou pelos culés cinco dias depois da partida contra o Zaragoza.
Novamente, há algo de verdade na lenda: de fato o brasileiro anotou três gols num mesmo jogo. Ele deixou um hat-trick no massacre por 8 a 1 sobre o Osasuna, mais uma vez jogando os 90 minutos.
Qual é o veredicto? 24yc
A conclusão é: tanto a versão de Cruyff quanto a de Romário são "baseadas em fatos reais", mas não são verdadeiras.
Da história do treinador, é possível afirmar que o Baixinho jamais foi substituído ainda no 1º tempo após fazer dois gols rapidamente pelo Barcelona.
O holandês, aliás, nunca tirou o centroavante de campo ainda na etapa inicial nas cinco vezes em que substituiu o astro.
Já do conto do camisa 11, os tais três gols aconteceram quando o Carnaval já tinha até acabado.
Portanto, nunca houve a tal "semana de folga" dada por Cruyff para curtir a folia no Rio de Janeiro.
Não deixa, porém, de ser uma boa resenha...