Na maioria dos filmes norte-americanos, nerds são aqueles que amam os estudos e têm aversão pelos esportes. Se há uma cena de luta, eles invariavelmente estão sendo superados pelos “bullies” mais durões. Mas é justamente no UFC, a maior organização de artes marciais mistas do mundo, que essa lógica começa a se inverter, e graças a uma equipe brasileira que nesta quinta-feira (5), justamente nos Estados Unidos, foi eleita a melhor academia de MMA do ano.
Trata-se da “Fighting Nerds”, sediada na Combat Club, localizada no bairro da Barra Funda, em São Paulo, e fundada por Pablo “The Alchemist” (o alquimista, em tradução livre) Sucupira, ex-lutador de boxe e muay thai e atual head coach do time que quer “dominar” o Ultimate.
Hoje a equipe conta com mais de 40 atletas, sendo seis no UFC, entre homens e mulheres: Carlos Prates, Maurício Ruffy, Jean Silva, Bruna Brasil, Thiago Moises e Caio Borralho – esse último foi o primeiro “aluno da classe”, ajudou a fundar o time e até hoje é visto como líder dela dentro do octógono. Todos “nerds bons de porrada”, como definiu Pablo à ESPN.
A reportagem esteve na sede da equipe e conversou com diferentes representantes para entender mais do projeto agora coroado como a melhor academia do ano na 16ª edição do “World MMA Awards” nos EUA. Nos octógonos, os óculos quebrados usados pelos lutadores viraram um símbolo, mas há bem mais que diferencia o time dos demais...
Os ‘nerds da porrada’ 214y3b
O nascimento da “Fighting Nerds” tem tudo a ver com seu atual CT, a Combat Club. O local, construído pelo próprio Pablo, era a casa da antiga equipe homônima do treinador. Entretanto, não satisfeito com o que tinha em mãos, ele buscava algo a mais, que ainda não havia atingido. Foi quando, por uma coincidência, em 2016, ele conheceu Borralho.
Caio, hoje com 32 anos, é natural de São Luís, no Maranhão. Seu avô era professor de matemática e o inspirou a seguir carreira acadêmica. Ele chegou a entrar na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) para estudar química e até a trabalhar como tutor. Em 2014, contudo, saiu da faculdade para perseguir seu grande sonho, o MMA.
Foi com a mudança para São Paulo que o caminho de Borralho cruzou com o de Pablo. Atrás de evolução nas artes marciais, o atleta chegou à Vila da Luta, academia de Demian Maia, para treinar grappling. Mas sentiu que precisava melhorar o striking, e acabou chegando, com pouca pompa, à Combat Club.
“Ele chegou a São Paulo em 2016. Eu já tinha um time e iria receber um cara que já tinha um nome, que já estava lutando. Nesse mesmo dia, por acaso, veio também o Caio. Eu lembro que eu entrei na academia, vi o Caio sentado. Eu não sei se foi a postura dele, alguma coisa, mas eu olhei e falei: ‘quem é esse cara aí?’ E falaram: ‘não, não, esse não é o bom, o bom é o outro’. Eu falei: ‘não, mas esse cara tem alguma coisa. Quem é ele?’ Daí eu fui, me apresentei, e ele tinha uma postura muito respeitosa, uma aura de campeão desde o início. Desde esse primeiro dia, eu tinha certeza que o Caião seria um grande nome do esporte”, explicou Pablo.
O primeiro dia de Caio na Combat Club, inclusive, foi simbólico. Segundo itiu o próprio lutador, ele nunca apanhou tanto em uma luta quanto no primeiro treino de sparring com Pablo. O treinador, no entanto, faz uma ressalva importante. “Foi o primeiro atleta que veio aqui, e eu não nocauteei.”
“Todo atleta que chegava na minha academia, eu fazia um treino e nocauteava o atleta. O Caio foi o primeiro que trocou porrada comigo, levou mais porrada, mas ficou em pé, andando para frente, e isso me impressionou, porque, independentemente da condição técnica dele, eu vi que ele nunca iria desistir”, complementou.