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'Nerds bons de porrada': como é a academia brasileira que brilha no UFC e foi eleita melhor do mundo 56446z

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Fundador da 'The FIghting Nerds' explica nascimento da equipe do UFC: 'Eu sempre tive uma abordagem inteligente da luta' (0:54)

Pablo Sucupira também é head coach do time brasileiro (0:54)

Na maioria dos filmes norte-americanos, nerds são aqueles que amam os estudos e têm aversão pelos esportes. Se há uma cena de luta, eles invariavelmente estão sendo superados pelos “bullies” mais durões. Mas é justamente no UFC, a maior organização de artes marciais mistas do mundo, que essa lógica começa a se inverter, e graças a uma equipe brasileira que nesta quinta-feira (5), justamente nos Estados Unidos, foi eleita a melhor academia de MMA do ano.

Trata-se da “Fighting Nerds”, sediada na Combat Club, localizada no bairro da Barra Funda, em São Paulo, e fundada por Pablo “The Alchemist” (o alquimista, em tradução livre) Sucupira, ex-lutador de boxe e muay thai e atual head coach do time que quer “dominar” o Ultimate.

Hoje a equipe conta com mais de 40 atletas, sendo seis no UFC, entre homens e mulheres: Carlos Prates, Maurício Ruffy, Jean Silva, Bruna Brasil, Thiago Moises e Caio Borralho – esse último foi o primeiro “aluno da classe”, ajudou a fundar o time e até hoje é visto como líder dela dentro do octógono. Todos “nerds bons de porrada”, como definiu Pablo à ESPN.

A reportagem esteve na sede da equipe e conversou com diferentes representantes para entender mais do projeto agora coroado como a melhor academia do ano na 16ª edição do “World MMA Awards” nos EUA. Nos octógonos, os óculos quebrados usados pelos lutadores viraram um símbolo, mas há bem mais que diferencia o time dos demais...

Os ‘nerds da porrada’ 214y3b

O nascimento da “Fighting Nerds” tem tudo a ver com seu atual CT, a Combat Club. O local, construído pelo próprio Pablo, era a casa da antiga equipe homônima do treinador. Entretanto, não satisfeito com o que tinha em mãos, ele buscava algo a mais, que ainda não havia atingido. Foi quando, por uma coincidência, em 2016, ele conheceu Borralho.

Caio, hoje com 32 anos, é natural de São Luís, no Maranhão. Seu avô era professor de matemática e o inspirou a seguir carreira acadêmica. Ele chegou a entrar na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) para estudar química e até a trabalhar como tutor. Em 2014, contudo, saiu da faculdade para perseguir seu grande sonho, o MMA.

Foi com a mudança para São Paulo que o caminho de Borralho cruzou com o de Pablo. Atrás de evolução nas artes marciais, o atleta chegou à Vila da Luta, academia de Demian Maia, para treinar grappling. Mas sentiu que precisava melhorar o striking, e acabou chegando, com pouca pompa, à Combat Club.

“Ele chegou a São Paulo em 2016. Eu já tinha um time e iria receber um cara que já tinha um nome, que já estava lutando. Nesse mesmo dia, por acaso, veio também o Caio. Eu lembro que eu entrei na academia, vi o Caio sentado. Eu não sei se foi a postura dele, alguma coisa, mas eu olhei e falei: ‘quem é esse cara aí?’ E falaram: ‘não, não, esse não é o bom, o bom é o outro’. Eu falei: ‘não, mas esse cara tem alguma coisa. Quem é ele?’ Daí eu fui, me apresentei, e ele tinha uma postura muito respeitosa, uma aura de campeão desde o início. Desde esse primeiro dia, eu tinha certeza que o Caião seria um grande nome do esporte”, explicou Pablo.

O primeiro dia de Caio na Combat Club, inclusive, foi simbólico. Segundo itiu o próprio lutador, ele nunca apanhou tanto em uma luta quanto no primeiro treino de sparring com Pablo. O treinador, no entanto, faz uma ressalva importante. “Foi o primeiro atleta que veio aqui, e eu não nocauteei.”

“Todo atleta que chegava na minha academia, eu fazia um treino e nocauteava o atleta. O Caio foi o primeiro que trocou porrada comigo, levou mais porrada, mas ficou em pé, andando para frente, e isso me impressionou, porque, independentemente da condição técnica dele, eu vi que ele nunca iria desistir”, complementou.

Se o cinturão ainda não chegou, o prêmio de “melhor academia de MMA do ano” no MMA Awards, equivalente ao Oscar do mundo das artes marciais mistas, já é realidade. Apesar da confiança no trabalho, a simples indicação à honraria já havia surpreendido Pablo.

“Foi uma pequena surpresa o prêmio, eu achei que a gente ia concorrer no ano seguinte, porque eu acredito que estaremos disputando títulos no UFC. Veio um pouco antes do que eu imaginava, mas eu acho que em 2024 nenhuma equipe teve os resultados da forma que a gente ganhou, as performances que a gente fez”, explica.

O prêmio, claro, coroou toda essa história, mas, antes dele, Pablo já deixava claro que o objetivo é maior. “A gente está ando uma mensagem diferente. A gente está mostrando que o lutador pode ser um pouco mais educado, um pouco mais respeitador. O jeito de lutar, um jeito mais consciente, mais inteligente. Então, a gente quer os resultados, a gente quer os títulos, mas, mais que isso, a gente quer ar uma mensagem, quer mostrar que nós somos o futuro do MMA.”