Atualização (30/12/19 - 18h30): Remilia faleceu na sexta-feira (27/12/19) enquanto dormia em seu apartamento em Las Vegas (EUA). A informação foi divulgada pelo colega de quarto, o jornalista Richard Lewis. A jogadora tinha 24 anos.
Dois anos após fazer história ao ser a primeira mulher e transsexual a disputar uma liga profissional de League of Legends, a norte-americana Maria “Remilia” Creveling revelou os motivos que a fizeram desistir e se afastar do cenário competitivo.
Em seu Twitter*, Remi contou que possui dores pélvicas irreversíveis causadas por uma cirurgia mal-feita de redesignação sexual. Segundo ela, o procedimento (normalmente bem caro) lhe foi prometido por um dos antigos sócios da equipe Renegades, Chris Badawi, caso a jogadora ajudasse o time a entrar na LCS NA.
Com a saúde mental fragilizada e sem condições de procurar ajuda, Remi relata que aceitou o acordo, mas que acabou sendo operada em uma clínica clandestina na Tailândia. Tendo apenas a mãe de Badawi como psicóloga, que ainda corroborou com a situação, a jogadora afirma que suas semanas na LCS foram difíceis, já que estava com tendências suicidas e muita dor da cirurgia.
"Eu estava me cortando e [tinha impulso] suicida durante minha agem pela LCS e não tinha prescrições como tenho agora", escreveu ela. "A dor era absolutamente inável e eu ainda tinha que subir no palco todo final de semana e dilatar** todo dia".
A jogadora conta que “foi resgatada” por Richard Lewis, que a ajudou a conseguir tratamento tanto psiquiátrico quanto físico para as dores. Os problemas causados pela cirurgia, no entanto, são irreversíveis, e Remi sentirá dores e dependerá de remédios para sempre.
“Nunca contei toda essa história para ninguém, mas talvez ela dê a mínima ideia do que eu ei e do quão vulnerável eu estava a toda atenção negativa que eu recebia online. Eu não era capaz de lidar com tudo de uma maneira saudável”, desabafa Remi.
A jogadora ainda alerta: “Tenha cuidado com aqueles que prometem o mundo a você. Eu fui prometida a única coisa que eu sempre quis e eu estava f***** e desesperada o suficiente para acreditar. ‘Se você nos ajudar a chegar na LCS, eu vou pagar pela cirurgia que mudará sua vida’. Era a única coisa que eu queria e faria qualquer coisa por isso”.
Remilia, de 23 anos, jogou pela Renegades de junho de 2015 a fevereiro/março de 2016. Meses depois da saída da jogadora da LCS, a Renegades foi banida do torneio norte-americano de League of Legends por múltiplas transgressões pelos donos dos times, incluindo o não pagamento dos jogadores, a falta de um ambiente seguro para o time, a realização de trocas injustas entre equipes e a quebra da violação já existente que impedia o envolvimento de Chris Badawi em qualquer evento da Riot.
Segundo Remi, Christopher “MonteCristo” Mykles, co-proprietário do Renegades, não sabia das enganações e mentiras de Chris Badawi, nem da situação da cirurgia clandestina.
Em uma publicação no Reddit, o próprio Chris Badawi não nega que prometeu pagar a cirurgia para Remilia, mas culpou a jogadora por querer “tratamentos especiais” e apressar o procedimento para jogar na LCS.
Richard Lewis, responsável por ajudar Remilia em sua crise e em todos esses anos de recuperação, publicou um vídeo (em inglês) sobre o assunto nesta terça-feira (27).
Até o momento, a Riot Games não se pronunciou sobre o assunto. O ESPN Esports Brasil também entrou em contato com a Riot, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.
* Remilia apagou os tweets publicados afirmando que, agora que falou o que estava guardado, pode finalmente deixar tudo para trás e superar a história. Além disso, a jogadora disse que não dará entrevistas sobre o assunto.
** Dilatar, nos casos de cirurgia de redesignação sexual, envolve colocar um molde rígido na neovagina para que ela fique no tamanho ideal. No caso de Remilia, como a cirurgia foi feita de forma errada e irreversível, o molde precisa ser utilizado diariamente.