Ser técnico no Brasil já não é uma tarefa das mais fáceis. Agora, imagine trabalhar do outro lado do mundo, em um idioma incompreensível e com uma cultura totalmente diferente tanto dentro quanto fora do futebol? ct3i Foi esse cenário que André Gaspar encontrou há três anos. Em 2015, ele aceitou uma oferta do Daegu FC, equipe da primeira divisão da Coréia do Sul, para participar da comissão técnica, mas depois assumiu a função como treinador principal. “Durante todo o ano de 2015 e 2016 enquanto estávamos na segunda divisão eu fiz como auxiliar. Tivemos o o no ano ado, mas o treinador saiu logo no começo e eu assumi a equipe", disse André ao ESPN.com.br. André Gaspar é atualmente o único treinador estrangeiro na K-League. Sob o comando do brasileiro, o Daegu surpreendeu e cresceu de rendimento na competição. Se antes a equipe estava entre os últimos na liga e figurava na zona de rebaixamento, com o novo técnico conseguiu fugir da situação incômoda e garantiu a vaga na primeira divisão. "Quando assumi a equipe, estávamos para cair no campeonato. Hoje, nosso time está na 8ª posição e já estamos salvos. Estamos com 17 pontos de vantagem para o último colocado, que é o que cai direto. Estamos fazendo uma boa campanha, nossa meta é se manter na 1ª divisão”, falou. Esta, no entanto, não é a primeira experiência do treinador no país. Quando ainda era jogador, André atuou por três anos na Coréia. Foi durante essa agem que conheceu o atual presidente do Daegu, que o chamou para retornar ao oriente. “Há 15 anos eu atuei pelo Anyang Seoul, que é o time da capital. Fiquei por três anos e meu treinador naquela época se tornou presidente no Daegu", revelou André. O trabalho que chamou a atenção de seu antigo técnico se deu quando ele ainda estava no Bragantino. À época, a equipe do interior paulista lutava para não cair para a Série C. "Assumi o time na reta final de 2014 na Série B e conseguimos nos livrar do rebaixamento para a terceira divisão. Nesse período, os olheiros do Daegu estavam no Brasil, e me fizeram o convite pra trabalhar dentro da comissão técnica do clube", disse. 
A experiência anterior no país, no entanto, não livra o técnico de todos os problemas. Apesar de conseguir se acostumar com a culinária local, André ainda tem no idioma uma barreira. “Quando cheguei no país pela primeira vez, a comida foi um problema, mas hoje eu já como de tudo, e até gosto de comida um pouco apimentada. Mas o que pega mesmo é na comunicação. Tenho um intérprete pra me ajudar, que também é do futebol já que ele jogou profissionalmente. É por ele que consigo ar o meu pensamento para os jogadores, mas não é a mesma coisa", revelou o técnico. Até as instruções mais básicas que André a às vezes não são entendidas pelos jogadores. “Tem vezes que você pensa que dá pra se virar e falar direto com o jogador. Uma vez fui falar para ir para a esquerda, aí ele vai e vira à direita. Então essa é uma coisa muito engraçada que a gente tem bastante dificuldade aqui, ligado à comunicação. Até mesmo os brasileiros que jogam aqui no time tem muita dificuldade dentro de campo”, completou. Essa não é a única diferença que André Gaspar encontra durante sua convivência na Coréia do Sul. O comportamento e o perfil dos jogadores são muito diferentes se comparar brasileiros com coreanos. “No Brasil, jogador por si só tem um perfil totalmente diferente. Aqui (na Coréia) a educação é primeira no mundo, então os jogadores obedecem bastante taticamente. Tudo aquilo que vocês pedem a eles, eles procuram cumprir da melhor maneira possível, enquanto no Brasil a gente já tem um pouco de dificuldade. Claro que a parte técnica é totalmente diferente, nós brasileiros estamos mil anos acima. Mas a obediência tática dentro de campo eles seguem à risca, tudo que a gente pede eles costumam fazer ao pé da letra”, confessou. Para ajudar dentro de campo, André conta com alguns brasileiros dentro do seu elenco. "Hoje eu tenho três: o Júnior Negão, que já atuou pelo ABC e no Criciúma, também tem o Evandro, centroavante que ou pelo Goiás e que estava no Japão ano ado, e tem o Cesinha que já jogou no Bragantino, Atlético-MG e Ponte Preta”. Assim como tem diferença nos perfis dos jogadores brasileiros e coreanos, o mesmo acontece na filosofia implementada pelos técnicos. A rigidez também é presente entre os comandantes e se diferencia do modo que André trabalha. “O tratamento do treinador coreano é bastante rígido. É tudo na base do grito, muitas vezes da porrada. Eu trato mais como ser humano. Tenho mais paciência, em ensinar, explicar. E eu dou muita moral, coisa que não fazem aqui. Eles tiram um pouco a liberdade do jogador, e faço justamente o contrário, dou maior liberdade para o jogador para tomar uma decisão ou fazer uma jogada, e acho que isso vem sendo fundamental”, disse. Mesmo com todas as dificuldades no país, André cumpriu o objetivo de se manter na 1ª divisão e, com isso, teve seu contrato renovado por mais uma temporada com o Daegu.
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